Uma vez confessei-me. Não do modo religioso, que isso não importa ao espírito.
Confessei-me com gritos, com movimentos, com lágrimas, com expressões.
Estamos à beira dum precipício, prontos a soltar um grito que esperamos que ecoe por montes e vales descobrimos que não o conseguimos fazer com tanta facilidade como pensámos inicialmente. Isso é uma confissão.
Confessar-me é deixar que os sentimentos expludam dentro de mim, é sentir um nó na garganta que depois alivia. Confessar-me é sentir-me pesada para depois me sentir leve como nunca antes me tinha sentido. Confessar-me é usar tudo o que tenho em mim, menos as palavras.
A confissão é um acto de libertação que o espírito exige no corpo. E aqui, o cérebro e a mente nada mandam.
"You never gave me time to say «I love you»"
Como um código: quase impossível de decifrar.Sinto que já esgotei as três tentativas.E agora?

Ping Pong.
Quando bem jogado, a bola faz sempre o mesmo som, o mesmo ritmo (quase musical) de back and forth.
Eu sou a bola. Tanto fico em cima, como em baixo.
Sujeita a levar pancadas de tal força que posso rebentar.
Frágil, mas crucial para o jogo.
A velocidade a que a bola vai só depende da perícia do jogador, e neste caso, acho que até estou nas mãos de alguém que joga estupidamente bem.
É. Estou nas mãos de alguém.
Sem vós, que seria de mim?
Obrigada.
Estou-vos eternamente grata.
E eu a pensar que estava na altura. De desistir, digo.
Aparentemente não. Voltas e voltas depois, o meu estômago decide que parar de tremer, grunhir e exprimir a sua má disposição não é uma escolha. Tem de acontecer: o estômago manda.
"Das duas, trinta e uma."
Será desta? Será agora que o meu olfacto (ou a falta dele) me denuncia, que o meu sorriso deixa escapar uma (meia) verdade?
Sim, o meu corpo vai-me denunciando involuntariamente, enquanto eu silenciosamente aguardo que o cérebro o domine.
Mas não. Diz o estômago, que manda, que é preferível ser dominada e denunciada, apontada claramente como a criança que bateu na outra, a que passa a vida a ser apontada e a ouvir dizer sobre si "Foi ele!".
Ao menos acabam-se as charades.